
Adam Morganstern
Ali Bullock na Gin Library da Solar Branco Eco Estate nos Açores
É comum que viajantes tragam uma garrafa de gin local das férias, mas um hotel nos Açores inverte essa lógica: os hóspedes chegam levando uma garrafa. “A regra é: se trouxerem um gin que eu já tenho, ele fica comigo”, conta Ali Bullock, proprietário do Solar Branco Eco Estate, na ilha de São Miguel. “Mas se for um que ainda não tenho, eles podem trocá-lo por um dos meus. É impressionante. Estamos recebendo gins incríveis que não se encontram em nenhum outro lugar do mundo reunidos em um só espaço.”
Com essa abordagem espontânea e a colaboração de hóspedes internacionais que trazem gins artesanais produzidos em pequena escala, Bullock anunciou recentemente a chegada da garrafa de número 2.000 e afirma ter a maior coleção de gin em hotéis do mundo. “Começamos com o meu acervo pessoal de 300 garrafas e agora temos exemplares de 72 países e de todos os continentes, exceto a Antártida”, diz. “Às vezes aparece alguém de uma pequena cidade da Tasmânia dizendo: ‘Você não tem o gin da minha cidade’, e eu respondo: ‘Agora temos.’”
A coleção está exposta na ‘Gin Library’, uma antiga casa de fazenda do século 19 localizada na propriedade. Todos os hóspedes são convidados a tomar um gin tônica de cortesia todas as noites. Também há degustações e aulas especiais sobre gin. E para quem deseja experimentar as raridades entre as 2.000 garrafas, o espaço adota uma política acessível. “Custa 14 euros (R$ 89,60) para experimentar qualquer uma delas”, explica Bullock. “Todas pelo mesmo valor.” Houve alguma que ele gostou tanto que decidiu guardar apenas para si? “Sim, uma Jettywave da Califórnia”, admite. “Mas depois eu a devolvi à coleção porque achei que todos deveriam poder provar.”

Rui Soares
A Biblioteca de Gin na Solar Branco Estate
Bullock conheceu sua esposa, Caroline Bullock — também proprietária do Solar Branco — tomando um gin tônica. “Estava ajudando num bar de um amigo, vi ela do outro lado do salão, entreguei uma bebida e disse: ‘Essa é pra você’”, relembra. O casal inglês se casou e passou a trabalhar em Hong Kong. Após 15 anos na cidade, decidiu mudar de vida e abrir um hotel nos Açores, destino da lua de mel. Bullock tinha exigências claras sobre o tipo de hospedagem que queria oferecer. “Já estive em cem países. Já me apaixonei durante viagens, já terminei relacionamentos em viagens. Já me apaixonei e terminei no mesmo feriado. Já fui assaltado e estive no meio de um golpe militar. Mas o que eu mais odiei em todas essas experiências foi o frigobar. O nosso será gratuito.”

Aerial World Visions
Solar Branco Eco Estate
Além do frigobar gratuito, o Solar Branco Eco Estate prioriza o conforto e a sustentabilidade em igual medida. São oito suítes e chalés de luxo, quatro deles localizados no casarão original da propriedade. A energia solar representa até 80% do consumo do local, que cultiva parte dos próprios alimentos (comprando o restante, majoritariamente, de agricultores locais), abriga 50 galinhas criadas soltas e proíbe plásticos descartáveis. “E temos as camas mais confortáveis de Portugal”, afirma Bullock. O hotel também apoia a Ocean Azores Foundation, iniciativa do próprio Bullock, que transformou as águas ao redor do arquipélago (região autônoma de Portugal) em um santuário de baleias.
Bullock também uniu o interesse pelo oceano e pelas baleias com o gin, lançando sua própria linha chamada ‘Ghosts of the Ocean’. A coleção tem dez tipos, incluindo o ‘Baleia’, feito com algas locais; o ‘Azorean Yuzu’, com cítrico japonês cultivado na ilha; além de versões como ‘London Dry’ e ‘Medusa Pink Gin’. Um dos mais significativos para Bullock é o ‘September 10 1987 Limited Edition’ — nome que remete ao dia seguinte à morte da última baleia nos Açores e à entrada em vigor da proibição da caça. “Não queria marcar o dia em que a última morreu, mas sim o dia em que passaram a ser protegidas.”

Rui Soares Jantar de sushi no Senhor Raposa’s Secret Drinking Den
A Gin Library é aberta a todos os visitantes, não apenas aos hóspedes do hotel. Quem busca uma experiência ainda mais exclusiva pode reservar um jantar com sushi no ‘Senhor Raposa’s Secret Drinking Den’, um bar secreto escondido atrás de uma estante coberta de gins. A chef Joana, natural de São Miguel, prepara um menu omakase com peixes locais harmonizados com a coleção de gins (há também opções vegetarianas e veganas). “Senhor Raposa foi o homem que construiu esta propriedade no século 19”, conta Bullock. “Dizem que ele saiu da ilha aos 15 anos em busca de aventuras e voltou décadas depois, muito rico. Mas ninguém o reconheceu, então passou a ser chamado de ‘Senhor Raposa’.”

Solar Branco Eco Estate
Garrafa número 2.000 para The Gin Library
Além da Jettywave da Califórnia, alguns dos gins favoritos de Bullock incluem o Tarquin’s Cornish Gin, do Reino Unido; o ClemonGold, da África do Sul; o Hapusa Himalayan Dry Gin, da Índia; o 44°N, da França; e o Arapuru, do Brasil. A coleção também reúne rótulos raros de países pouco associados à produção da bebida, como Bolívia, Botsuana, Uganda, Bulgária e Guatemala. “O bom de receber gente do mundo inteiro em torno de uma bebida é que todos deixam de lado as diferenças políticas ou culturais. O que une todo mundo é o gin.”
E embora já tenha alcançado o marco para reivindicar o título de maior coleção de gin em hotéis, Bullock não dá sinais de que pretende parar. “Disse à minha esposa que pararia nas mil garrafas — depois disse que pararia nas 1.500”, conta. “Agora estamos em 2.000, mas devem existir pelo menos mais 15 mil no mundo. Então vou parar nas 4.000? Acho que, enquanto continuarem nos trazendo gin, não há por que parar. Só preciso construir mais prateleiras.”
Fonte: Forbes